Rodrigo Dalga Entrevista João Carlos Dalgalarrondo

Rodrigo entrevista João Carlos Dalgalarrondo.

Rodrigo: Como você descreveria a partir de sua experiência na Cia o funcionamento dos processos criativos propostos?

Dalgalarrondo: Tem algumas coisas importantes nesses processos criativos, como os laboratórios temáticos, que por exemplo, alguns trabalhos que fiz com a Valéria Franco eram trabalhos que integravam a dança e a música o músico performer. Então cada projeto era um trabalho de laboratório, por exemplo, para ser prático, vamos montar um trabalho com a marimba e a dança, então muitas vezes eu improvisava e ela ia improvisando também com a dança, a gente ia conversando, era muito um diálogo entre o instrumento ou a forma dele, o tamanho dele a música que estava sendo tocada e a dança dela. Nisso a gente ia reunindo material até escolher algumas coisas, isso é bem interessante, isso pode caminhar assim assado, e muitas vezes aparecia um tema né…vamos falar sei lá sobre a chuva ou sobre a dificuldade do tocar certo.

Rodrigo: E esse tema aparecia como?

Dalgalarrondo: Improvisando, conversando surgia um tema, às vezes nem era durante, as vezes a gente trabalhava, trabalhava, trabalhava e depois num outro momento sem estar improvisando a gente falava assim nossa, esse trabalho assim pode ser interessante ele pode ir por esse viés, a gente pode desenvolver esse tema.

Rodrigo: Então você poderia dizer que o tema surge a partir do convívio.

Dalgalarrondo: sim, sem dúvida. 

 

Rodrigo: O que você enxerga como pilar estruturante do trabalho artístico da companhia?

Dalgalarrondo: A possibilidade de vc estar improvisando com diferentes linguagens, seja dança, teatro , música, fazer com que o músico dance, atue, a bailarina toque atue. é uma coisa na verdade híbrida entre essas três artes e que existe uma grande conversa entre os artistas, isso dentro dos laboratórios é a estrutura é a base, pra mim do que a gente faz, desenvolve.

Rodrigo: Então é como se a troca de experiência entre os artistas comove-se a experimentar o que o outro está fazendo?

Dalgalarrondo: Existe isso sempre, quando a gente improvisa e a gente tá ligado nas pessoas que estão improvisando com vc e ta conversando com essas pessoas, essas coisas aparecem durante a improvisação, para nós é muito simples porque a gente fez muito isso. Acho que a base do pilar é a improvisação.

Rodrigo: Uma improvisação voltada para o intercâmbio de linguagem?

Dalgalarrondo: Sim, principalmente quando você improvisa com linguagens diferentes, aí você vai criar esse intercâmbio.

Rodrigo: Como você se vê durante os processos criativos ou ensaios da Companhia?

Dalgalarrondo: Eu me vejo como uma pessoa muito ativa, principalmente em termos de ideias, possibilidades, temas. Eu sempre associei muitas coisas que a gente faz, trabalhos, propostas, a coisas temáticas como sei lá uma lista de materiais a trabalharem.

Rodrigo: Qual você acha que é a principal referência da linha de pesquisa da CIA Tugudum?

Dalgalarrondo: Eu acredito que a gente tenha algumas referências desse hibridismo entre música, dança e teatro. Eu venho por exemplo de trabalhos de música cênica, teatro musical que eu aprendi na França e depois comecei e desenvolver sozinho, comecei a compor a partir dessa linguagem que é o músico instrumentista fazendo música cênica que é a mistura do teatro com a música se tornando uma coisa só. Então eu acho que compositores como George Aperghis, Mauricio Kagel e o próprio Cage foram compositores contemporâneos importantes, primeiro para minha formação e depois para a companhia Tugudum ao passo que essas referências eram digeridas nas improvisações 

Rodrigo: Qual trabalho ou companhia você acha que tem mais semelhanças com a Cia Tugudum?

Dalgalarrondo: Não que influenciaram, mas que apareceram e que a gente viu. Tem um grupo uruguaio que a gente viu na Bienal de dança de Campinas fazendo uma mistura muito interessante entre música e dança, que eu não me lembro o nome. Mas tem também o Stomp, que mesmo sendo mais pop podem lembrar o trabalho da companhia, outros mais recentes de música cênica como Drumming que também lembram. Mas eu acho muito particular a forma como nós misturamos dança e música porque é uma coisa muito pessoal de Dalgalarrondo e Valéria Franco.

Rodrigo: E a Andréia Nhur e o grupo Pró-posiçao.

Dalgalarrondo: Dentro do grupo Pró- posição eu não vejo tanta semelhança, eu vejo mais no trabalho solo da Andréia Nhur, por ter assistido nossos trabalhos e com certeza isso deve ter a influenciado.

Rodrigo: Como você descreveria a linha de pesquisa da Cia Tugudum?

Dalgalarrondo: A linha de pesquisa está nesse lado híbrido da música e dança e que aparece o teatro no meio. Mas é uma linha de improvisação, de integração com o público, tem uma linha de humor que aparece em vários espetáculos, e tem uma linha em que a proposta é não reconhecer tanto quem dança e quem toca, o que cada um está fazendo, vira uma mistura e um resultado diferente.

Rodrigo: Mas é uma forma de gerar uma confusão no espectador ou não?

Dalgalarrondo: Não, não é trazer uma confusão mas é trazer uma imagem diferente uma imagem  nova, a proposta é sempre tentar trazer algo que não foi realizado, não foi feito. A linha de pesquisa do tugudum se difere muito da linha de pesquisa acadêmica por que a gente parte do princípio que a criatividade está em cada um e muitas vezes a gente não precisa fazer uma pesquisa de elementos que são parecidos em outros trabalhos pra gente compor o nosso, pq a gente acredita que esses outros elementos podem atrapalhar o nosso jeito de criar. 

Rodrigo – Fala um pouco mais da diferença dessa metodologia acadêmica e a metodologia da Cia Tugudum. 

A gente vai meio de encontro, meio revolucionário nesse sentido. Nao que se trata de uma preguiça de ir atrás e ver outras coisas, é claro que a gente sempre vê alguma coisa, uma referência, mas não por uma intenção, não existe uma intenção, pelo fato de, a gente pega algum tema e desenvolvê ele do jeito que a gente vê, do jeito que a gente sente com as nossas experiências, sem fazer uma pesquisa de referências para não ser influenciado por essas referências ou influenciado por um lado de assim negando alguma coisa ou positivando outra coisa. Isso quer dizer pelo fato de por exemplo, se você tem alguma referência e você fala assim, nao eu nao posso ir pq isso já existe eles trabalharam nessa linha eles fizeram esse tipo de coisa. A ideia é que a gente sempre vai fazer alguma coisa diferente pela nossa experiência ser diferente e isso vai resultar no nosso trabalho.